Não é novidade que as superstições acompanham de perto a vida da grande maioria dos brasileiros. E como uma extensão e reflexo da sociedade, no futebol não poderia ser diferente – principalmente no Botafogo de Biriba.
A história que aqui será contada remete aos anos 40, mais precisamente a 1948, e envolve um dos maiores clubes do futebol brasileiro. Que também é um dos mais supersticiosos, historicamente.
O Botafogo, clube do Rio de Janeiro, vivia uma seca de títulos cariocas que já durava 13 anos. A maldição finalmente se encerrou após uma épica virada contra o Flamengo, grande rival do clube de Niterói, para a conquista da taça do Campeonato Carioca daquele ano.
E segundo alguns botafoguenses – em particular o presidente do clube à época, Carlito Rocha – essa façanha não teria acontecido sem a importante contribuição de um grande personagem histórico do clube: Biriba.
Índice
Quem foi Biriba?
Biriba era um cão sem raça definida (SRD), alvinegro como o Botafogo e adotado pelo zagueiro Macaé, que decidiu levá-lo com ele para os treinamentos por Biriba possuir as mesmas cores do clube.
No dia 28 de novembro de 1948, o Flamengo vencia o Botafogo por 3 a 1 em General Severiano, casa do Botafogo. A derrota custaria o título e mais um ano de seca.
O gol da virada épica (o jogo terminaria com placar de 5 a 3 para o Botafogo), marcado por Pirillo, teve comemoração com todos os companheiros de equipe se jogando em cima do atacante, deitados no gramado.
Mas a imagem não mostrava apenas os atletas. Entre eles, um efusivo torcedor de quatro patas, correndo e invadindo o gramado para comemorar junto dos seus.
Era Biriba, empolgado com a histórica virada do Botafogo e o título após treze longos anos de espera.
A virada veio com um gol do ex-rubro-negro Pirillo, o atacante tinha sido dispensado porque já estaria velho demais. Após o gol, Pirillo desabou no gramado e uma pilha de jogadores se formou em cima dele, até Biriba estava no meio daquele bolo.
O juiz Mr. Devine, compreendendo a grandeza daquele momento, esperou pacientemente o final das comemorações e nem reclamou do cãozinho em campo.
Nenhum jogador do Flamengo teve coragem de reclamar da demora para o recomeço da partida. Paraguaio ainda marcou o quinto gol. Uma vitória com V maiúsculo.
Rafael Casé, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e autor de alguns livros sobre o Botafogo, incluindo a biografia de Carlito Rocha
Superstição para lá de estranha com… xixi
Não demorou para o ex-presidente atribuir ao cãozinho a sorte da conquista. Muito supersticioso, Carlito Rocha decidiu que era preciso levar o novo mascote em todos os jogos dali para frente, e assim o fez
E não apenas isso: reza a lenda que Biriba deveria fazer xixi no pé dos jogadores do Botafogo antes dos jogos para que isso desse sorte a eles.
Começava ali toda a fama e boa vida de Biriba. Acompanhando a equipe em todos e distribuindo sua milagrosa urina, o vira-lata era tratado com tudo o poderia ter de melhor.
Fotos em jornais e revistas, festa de aniversário, vaga cativa nas viagens do clube. Em certa oportunidade, só havia espaço para mais um membro na delegação do Alvinegro que iria disputar uma partida em outra cidade.
Resultado: um jogador foi cortado para que Biriba pudesse ser levado.
A fama começava a atingir proporções tão grandes que as outras equipes não queriam permitir a presença de Biriba nos jogos. Foi assim contra o Vasco, em São Januário.
Porém, após conversa de Carlito, foi-lhe permitido manter Biriba em seu colo durante a partida.
E a superstição parecia não ser à toa: enquanto o cãozinho viajava com o grupo, foram 19 partidas disputadas pelo Glorioso, com 17 vitórias e dois empates.
O talismã parecia começar a despertar inveja e ciúme nas outras equipes, a ponto de temerem pela vida do cãozinho: Macaé, companheiro zeloso que era, até experimentava a comida de Biriba antes que ele comesse para evitar qualquer “imprevisto”.
Pendurando as chuteiras
Porém, como já era de se esperar, a sorte virou. Biriba continuava com o seu xixi habitual, ainda viajava com os jogadores, mas as vitórias não vinham mais.
Ele foi pouco a pouco deixado de lado, também por Carlito, seu principal entusiasta. Alguns se perguntavam se havia sido algum feitiço, outros passaram a achar que o cãozinho trazia azar, na verdade.
Biriba faleceu em 1958, aos 12 anos de idade, vítima de diversos problemas de saúde e praticamente cego. No entanto, quem sempre esteve ao seu lado foi Macaé, o companheiro que cuidou do vira-latinha até o momento de sua partida.
O cãozinho se foi mas a sua história não saiu dos corações dos botafoguenses. Até os dias de hoje o cachorro é adotado como mascote da torcida, que utiliza a palavra “canil” para identificar as diferentes regiões onde está localizada.
Em 2008, inclusive, o Botafogo lançou oficialmente dois mascotes para que houvesse maior identificação e engajamento com as crianças torcedoras: Bira e… Biriba!
Créditos das imagens: Acervo Histórico Botafogo.
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