Constantemente nos lembramos dos nomes que fizeram história durante o início da corrida espacial mundial, como o russo Yuri Gagarin, o primeiro homem enviado ao espaço, e Neil Armstrong, o primeiro a pisar na lua.
O que poucos sabem é que nada disso seria possível sem o corajoso auxílio dos animais.
Isso mesmo, você não está lendo errado. Os animais foram de fundamental importância para que o ser humano pudesse viajar além das fronteiras do nosso planeta.
O mais famoso deles é a Laika, uma cadelinha russa que foi o primeiro ser vivo a orbitar a Terra. Infelizmente, devido a uma hipertermia (calor excessivo) ela faleceu poucas horas depois do lançamento.
Sua história comovente a faz ser lembrada até os dias de hoje. Porém, existiram outros.
Nas décadas de 50 e 60, o corrida espacial estava a todo vapor. União Soviética e Estados Unidos, em plena Guerra Fria, travavam uma árdua luta pelo pioneirismo do espaço.
Contudo, ainda existiam dúvidas sobre como a falta de gravidade afetaria os órgãos vitais humanos.
Pensando nisso, cachorros, macacos, ratos e até tartarugas foram enviados como cobaias espaciais. A já citada Laika e o chimpanzé Ham – enviado pelos Estados Unidos – são os mais conhecidos.
Mas também houve um gato – a Félicette.
Índice
Quem foi a gata Félicette?
Félicette foi o primeiro gato enviado ao espaço.
Ela fazia parte de um grupo de 14 gatinhas recrutadas pelo Centre National D’études Spatiales (CNES), o programa espacial da França.
Enquanto passava pelos testes nos laboratórios, Félicette era conhecida como C 341.
A decisão de chamá-la dessa forma tinha a ver com o fato de os franceses procurarem evitar ao máximo criar laços com os animais, já que não havia certeza de que voltariam vivos de suas missões.
Gato ou gata?
Ao saber da notícia de um gato enviado ao espaço, a mídia da época passou a chamá-la de Félix, em alusão ao famoso personagem Gato Félix.
Para deixar claro que se tratava de uma fêmea, o Centre d’Enseignement et de Recherches de Médecine Aéronautique (CERMA), centro de pesquisa aeronáutica da França, decidiu batizá-la oficialmente de Félicette.
A missão de Félicette e de outras gatas
Durante o processo de treinamento, Félicette teve eletrodos cirurgicamente implantados em seu crânio para que a sua atividade cerebral pudesse ser monitorada durante a viagem.
Ela foi a escolhida para missão porque, além de ser a mais dócil entre todas as gatas, tinha o peso ideal para a missão, 2,5 quilos.
No dia 18 de outubro de 1963, Félicette foi lançada ao espaço a bordo do foguete Véronique. De uma base de pesquisas no centro da Argélia, em pleno deserto do Saara, a gatinha decolou para um voo que durou, ao todo, 13 minutos, e a trouxe de volta sã e salva.
Infelizmente, como essas histórias não tendem a terminar com finais felizes, Félicette foi sacrificada dois meses depois para que os eletrodos fossem retirados e pudesse ser feita uma autópsia em seu cérebro.
Ela teve a sua imagem estampada em cartões-postais após a sua corajosa viagem.
Depois de Félicette, houve uma segunda tentativa de enviar uma gata ao espaço, mas infelizmente uma falha no lançamento causou a sua morte.
Além delas, Scoubidou, uma das 14 felinas separadas para testes, foi adotada como mascote pela equipe francesa após sofrer graves sequelas da cirurgia para implantação dos eletrodos no cérebro.
Os demais gatos foram sacrificados ao final do programa.
Homenagem à Félicette
Ao contrário de Laika, a história de Félicette caiu no esquecimento. No entanto, em 2019 esse erro foi reparado por um jovem britânico.
Matthew Serge Guy, publicitário, se deparou pela primeira vez com a história de um gato no espaço durante o trabalho. Ele mesmo conta a história.
Em abril de 2017, enquanto trabalhava, encontrei uma toalha na cozinha dos funcionários que comemorava o 50º aniversário do gato que foi ao espaço. Não havia nome para o gato na toalha nem se parecia com Félicette.
Matthew Serge Guy
Após pesquisar o assunto na internet, Matthew se encantou com Félicette e sua história.
“Fiquei fascinado com a história de Félicette, como ela havia sido esquecida ao longo dos anos” – completou.
Ele então decidiu criar uma campanha no Kickstarter visando arrecadar fundos para a construção de uma estátua para a gatinha.
“Nos últimos 54 anos, a história do primeiro e único gato a ir para o espaço foi amplamente esquecida. Ela merece um memorial apropriado. Embora outros animais no espaço, como a cadela Laika e o chimpanzé Ham, sejam bem conhecidos na cultura popular e tenham memoriais duradouros, muito poucas pessoas sabem que um gato foi para o espaço”, escreveu Guy no Kickstater.
A campanha foi um sucesso, tendo arrecadado uma quantia equivalente a quase R$ 300 mil, na cotação atual. A estátua foi finalmente projetada, em bronze e medindo 1,5 m de altura, com Félicette em cima de um globo terrestre e olhando para o espaço.
A escultura se encontra no Pioneer’s Hall (Salão dos Pioneiros, em tradução livre) da International Space University (ISU), em Estrasburgo, França, próxima ao busto de Yuri Gagarin.
Uma homenagem mais do que merecida para essa felina pioneira e única na sua espécie.
Deixe seu comentário